- Sandra Carvalho
Anticorpos de vacas funcionam contra coronavírus?
Se são vacas geneticamente modificadas da SAB Biotherapeutics, talvez.

As vacas geneticamente modificadas da startup americana SAB Biotherapeutics, da Dakota do Sul, estão produzindo anticorpos humanos contra o SARS-CoV-2, o novo coronavírus.
A SAB diz que a eficácia desses anticorpos, chamados de SAB-185, já foi provada in vitro. E afirma que eles são quatro vezes mais eficientes contra a Covid-19 que o plasma de pessoas convalescentes, uma terapia que já se mostrou promissora.
Mas os anticorpos SAB-185 ainda não foram testados em humanos - os testes clínicos devem começar dentro de algumas semanas. Só então se poderá ter indicações mais firmes de que tratamento com o SAB-185 realmente pode vencer a infecção.
A ideia é que o SAB-185 sirva para o tratamento de quem já está doente com o novo coronavírus e também para evitar a infecção dos grupos mais vulneráveis enquanto não existir uma vacina.
Se tudo der certo, será a primeira vez que um tratamento com anticorpos produzidos em animais é aprovado.
Vírus de Wuhan e Munique
A SAB trabalha há anos com vacas leiteiras geneticamente alteradas para produzir grandes quantidades de anticorpos humanos.
São animais com células que carregam o DNA humano de produção de anticorpos. Quando infectadas propositalmente por um patógeno, produzem os anticorpos visados.
O SAB-185 foi desenvolvido com base no novo coronavírus de Wuhan, o primeiro epicentro da pandemia. Segundo a SAB, o tratamento funcionou também na mutação do vírus de Munique, considerada a prevalecente nos Estados Unidos.
A SAB Biotherapeutics é uma pequena biofarmacêutica de Sioux Fall, especializada em imunoterapia. Através de engenharia genética, desenvolve tratamentos contra diabetes, vários tipos de câncer e gripe sazonal.
Criada em 2014, ainda tem menos de 100 funcionários, segundo a Crunchbase. Mas conta com aliados poderosos - entre os quais, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com quem mantém um contrato milionário para desenvolver respostas rápidas para ameaças biológicas.
Dá para tratar milhões?
Quando a pandemia do novo coronavírus emergiu, a SAB estava focada numa terapia contra outra doença provocada por um coronavírus aparentado com o da Covid-19, a MERS. Partindo daí, criou o SAB-185.
Caso os anticorpos produzidos pelas vacas funcionem nos testes clínicos, eles poderão ser adotados com uma vantagem óbvia sobre o plasma humano de convalescentes da doença, que depende de doação de sangue: são bem mais escaláveis.
Escaláveis o suficiente para atender já milhões e milhões de pessoas que precisam se proteger urgentemente do SARS-CoV-2? Dificilmente.
Segundo declarações de executivos da SAB à revista Science, cada vaca poderá produzir por mês anticorpos para tratar muitas centenas de pacientes, mas não milhares.
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