
Sandra Carvalho
As florestas desmatadas se vingam do agronegócio
Em áreas desvastadas do sul da Amazônia, a chuva diminui e as plantações de soja minguam.

Derrubar florestas para expandir plantações na Amazônia pode ser uma tentação para o agronegócio, mas é uma má ideia. Periga ser até um agrossuicídio.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (#UFMG) estudaram uma região de 1,9 milhão de quilômetros quadrados em seis estados do sul da Amazônia onde o agronegócio ocupou até 60% de antigas florestas.
Nessas áreas, as #chuvas caíram pela metade ao longo de 20 anos, penalizando sobretudo as grandes plantações de soja e também a criação de gado. O estudo foi publicado na Nature Communications.
"“Financeiramente não compensa desmatar para produzir, porque em poucos anos a perda causada com a redução de chuvas será maior que o ganho de produção decorrente do aumento da área plantada”, alertou o engenheiro florestal Argemiro Teixeira, da UFMG, um dos autores do estudo, à Pesquisa Fapesp.

Por que a chuva diminui? A umidade, antes garantida pela floresta, despenca, e aumenta o albedo (capacidade de refletir a luz solar).
Em termos imediatos, o desmatamento pode até aumentar localmente as chuvas, mas os
níveis de precipitação começam a cair abruptamente quando o desmatamento supera 58% do território.
Segundo Teixeira descreveu num comunicado da UFMG, o processo todo é um jogo de soma negativa, em que as perdas com o desmatamento sempre acabam sendo maiores que os ganhos da expansão da área da agropecuária.
Seria o agrossuicídio na Amazônia, segundo os pesquisadores.
De acordo com o estudo, o prejuízo causado pela queda de produtividade na região pode chegar a 5,7 bilhões de reais, ou 1 bilhão de dólares, por ano, considerando a produção de soja e carne.
"O prejuízo é muito maior se considerarmos que o desmatamento na Amazônia reduz drasticamente a chuva nas regiões Sul e Sudeste”, observou o metereologista Luiz Augusto Machado, outro autor do estudo.
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