- Sandra Carvalho
Crustáceos do Ártico já têm traços de analgésicos
Na remota ilha de Spitsbergen, os animais absorvem várias drogas farmacêuticas.

Os crustáceos da costa oeste da longíngua ilha de Spitsbergen, no arquipélago de Svalbard, no Ártico, estão contaminados com antidepressivos, analgésicos, antiinflamatórios e outras drogas farmacêuticas.
As amostras dos crustáceos foram recolhidas por pesquisadores noruegueses da organização de pesquisa Sintef, Instituto Polar Norueguês e Centro Universitário de Svalbard.
Os crustáceos vieram de uma área próxima ao assentamento de Ny-Ålesund, em Spitsbergen, onde há apenas 30 habitantes permanentes, a maioria cientistas. Com pesquisadores visitantes e trabalhadores esporádicos, a população chega um máximo de 200 pessoas.
Turistas aparecem ali por períodos curtos, a maioria em viagens de bate-volta no mesmo dia, e os navios são proibidos de descarregar esgoto e lixo ali perto.
Como então os crustáceos foram contaminados, com tão pouca gente no local? Isso ainda não foi devidamente esclarecido.
O Ártico tem uma problema geral de contaminação por esgoto, em função de permafrost e baixíssimas temperaturas. Em Ny-Ålesund há apenas um sistema de esgoto muito básico, instalado em 2018.
Entre as drogas mais comuns registradas pelos cientistas estão ibuprofeno, diclofenaco, antidepressivos e antibióticos.
Os níveis de ibuprofeno estavam altos em todos os animais. A droga permanece por longo tempo no meio ambiente, ao contrário do paracetamol, que se decompõe rapidamente. Já a concentração de antidepressivos estava bem mais baixa.
No geral, os pesquisadores não encontram concentrações de drogas a um ponto de prejudicar a vida selvagem do Ártico. Mas isso não é uma garantia que a pegada humana na região seja totalmente inócua.
"Não sabemos quais são os níveis de tolerância das espécies de vida selvagem no Ártico", observou a pesquisadora Ida Beathe Øverjordet, do instituto Sintef. "É algo que estudaremos no futuro."
O estudo dos crustáceos faz parte de um projeto chamado PharmArtic, para levantar os impactos tóxicos dos assentamentos humanos e do turismo nos ecossistemas do Ártico.
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