
Sandra Carvalho
Indústria de carros usa couro de áreas desmatadas, diz ONG
A organização inglesa Earthsight investigou os estragos feitos nas florestas do Paraguai.

A região do Chaco, no Paraguai, está sendo devastada com a derrubada ilegal de matas para criação de gado voltada à produção de couro para algumas das maiores indústrias europeias de carro, acusa a organização inglesa #Earthsight.
No relatório Grand Theft Chaco, a ONG afirma que fazendeiros da região do Chaco desflorestaram terras dos indígenas Ayoreo Totobiegosode, que vivem isolados, para criar gado e fornecer couro para curtumes que abastecem várias indústrias automobilísticas.
"Nenhum proprietário de carro vai se sentir confortável em seu macio banco de couro sabendo que o último refúgio de um grupo indígena isolado foi ilegalmente desmatado para fornecer esse couro", comentou Sam Lawson, diretor da Earsight.
A área dos grupos Totobiegosode, conhecida pela sigla PNCAT em espanhol, é protegida desde 2001, mas perdeu 53 mil hectares de floresta para os pastos nos últimos 16 anos.

O relatório cita nominalmente a Jaguar Land Rover e a #BMW como indústrias que alimentam o desmatamento.
Segundo a Earthsight, a #Jaguar abriu uma investigação a respeito, e a BMW afirmou desconhecer que sua cadeia de suprimentos na América Latina tivesse esse tipo de problema.
Paradoxalmente, a BMW é uma das fabricantes de carros mais ativas em relação ao meio ambiente: tem uma política formal contrária a desflorestamento e tenta traçar a origem de suas matérias-primas.
Fabricantes como Ford, Hyundai, Toyota, Renault, Jaguar e PSA não fazem nem uma coisa nem outra, segundo o relatório Grand Theft Chaco.
A Volvo faz as duas coisas. Volkswagen e Daimler se posicionam contra o desflorestamento, mas, de acordo com a Earthsight, não rastreiam a origem de suas matérias-primas.

De acordo com o relatório, um grande curtume italiano, Pasubio, um dos líderes globais de couro para carros, é o principal comprador de couro paraguaio.
Algumas empresas do Brasil são acusadas pelo relatório de atividades predatórias na cadeia de produção do couro paraguaio.
Segundo a Earthsight, os desmatamentos mais notórios, alguns permitidos, outros não, foram feitos pela companhia brasileira Yaguarette Pora na área PNCAT.
Outra empresa brasileira citada é a Caucasian SA, que já brigou com os grupos Totobiegosode nos tribunais. Conforme o relatório, a Caucasian é a responsável pela maior área recente desmatada na área protegida dos indígenas.
Os investigadores da Earthsight seguiram os caminhões da Caucasian e constataram que eles faziam entregas de vacas para frigoríficos que abastecem os curtumes de couro.
Uma subsidiária da multinacional brasileira Minerva Foods, FrigoAtena, também é mencionada como compradora de gado da Caucasian.

A investigação da Earthsight durou 18 meses e focou nas florestas do Gran Chaco, onde vivem o jaguar (o animal) e o tamanduá-bandeira.
As estimativas do relatório são de que o Chaco paraguaio perdeu área equivalente a um campo de futebol a cada dois minutos em 2019.
O Paraguai exporta anualmente 50 mil toneladas de couro wet blue (ainda nos estágios iniciais de processamento).
Perto de dois terços vão para Europa, quase integralmente para a Itália. Os curtumes italianos terminam de curtir o couro e o entregam para as indústrias de carros.
A indústria automobilística consome por ano entre 50 e 60 milhões de peles de vaca, segundo a Earthsight. ✔︎
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