- Sandra Carvalho
Ondas de calor podem matar de 27 diferentes maneiras
O efeito letal das ondas de calor pode atingir qualquer pessoa, mesmo saudável.

Morrer durante uma onda de calor é como assistir a um filme de terror podendo escolher entre 27 diferentes finais infelizes.
A definição é de Camilo Mora, professor de Geografia da Universidade do Havaí em Manoa. Ele acaba de conduzir um estudo sobre o efeito letal das ondas de calor.
E como elas matam: fizeram 70 mil vítimas na Europa em 2003, 10 mil na Rússia em 2010, 2 mil na Índia em 2015...
Na última década, houve um aumento de mais de 2.300% da perda de vidas com as ondas de calor.
A pesquisa foi publicada ontem no jornal Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes.
Segundo o estudo, quando o corpo é exposto a um calor extremo, o sangue flui para a pele, numa tentativa de resfriamento. Isso torna o fluxo do sangue para os outros órgãos insuficiente. Trata-se do mecanismo chamado de isquemia.
Se o corpo fica quente demais, de qualquer forma, há danos em células, causados por outro mecanismo, chamado citotoxidade de calor.
Os dois mecanismos são mortais e podem impactar o funcionamento do cérebro, coração, rins, fígado e intestinos. A resposta a esses dois mecanismos pode complicar ainda mais.
O intestino, por exemplo, libera seu conteúdo na corrente sanguínea, acionando um terceiro mecanismo, o de resposta inflamatória sistêmica.

Para responder a esses três mecanismos - isquemia, citotoxidade de calor e resposta inflamatória sistêmica - as proteínas que controlam a coagulação do sangue passam a produzir coágulos em excesso.
Esses coágulos podem cortar o fornecimento de sangue ao cérebro, rins, fígado e pulmões. É o quarto mecanismo em ação, chamado de coagulação intravascular disseminada.
O esgotamento das proteínas de coagulação pode levar a hemorragias fatais mesmo sem qualquer ferimento.
O quinto e último mecanismo acontece quanto a isquemia e a citotoxidade de calor se juntam a uma atividade física muito forte (como fazer exercícios ou trabalhar ao ar livre).
Isso causa danos nas células dos músculos e o vazamento de mioglobina, proteína tóxica para os rins, o fígado e os pulmões.
O estudo de Mora e sua equipe combinou esses cinco mecanismos fisiológicos e seu impacto em sete órgãos vitais para chegar às 27 maneiras em que as ondas de calor matam.
Segundo a pesquisa, essas ondas podem acabar com a vida de qualquer pessoa, mas quem já tem problemas físicos ou não pode bancar um ar condicionado corre um risco maior.
"E impressionante como a humanidade em geral tem uma atitude complacente sobre as ameaças trazidas pela mudança de clima", comentou Mora.
A pesquisa foi publicada ontem no jornal Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes.
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